quarta-feira, 13 de maio de 2009

História da Psicologia, de Maurice Reuchlin (1959)

Bem, essa semana na faculdade veio parar em minhas mãos um exemplar do célebre livro de Reuchlin, chamado História da Psicologia, mais especificamente uma edição de 1959 da editora Difusão Européia do Livro.

Antes de abri-lo, regozijei com a possibilidade de estudar um pouco de história da psicologia fora dos grandes manuais (Schultz & Schultz, etc.) habituais.

Reuchlin faz uma divisão inteligente (e surpreendentemente desatualizada devido a idade do livro) do estudo psicológico, analisando a história de cada "corrente" psicológica vigente até então, e nomeando cada capítulo com seu nome. Vemos então capítulos como "A psicologia experimental", aonde me surpreendi ao ver uma descrição da teoria do erro pessoal de Bessel! Nomes brilhantes como Fechner, Helmholtz e Wundt são obviamente citados. Um adendo que acho importante fazer aqui é a explicação de Reuchlin para a sua construção de uma história da psicologia que começa na metade do século XVIII: segundo ele, se for considerado psicologia todo aquele ramo da filosofia acerca da "alma", então teríamos que nos voltar à história dos primeiros pensamentos humanos. Reuchlin pretende focar em uma psicologia científica, qualificada como "nova" psicologia. Ainda neste capítulo, fala sobre as influências ulteriores da psicologia, falando sobre Galton, Ebbinghaus e Binet com a corrente de estudo sobre os processos superiores, e sobre a "psicologia da forma" (psicologia da gestalt), citando Koehler, Koffka e Wertheimer. Achei bacana a maneira como o autor se refere ao behaviorismo de Watson, sempre positivamente, sem fazer censuras ao modelo comportamental, mas sim engrandecendo a busca por uma psicologia que não apele aos estados de consciência do sujeito. Pavlov é citado em três páginas. Todo seu método e sua história são esmiúçados de forma que me pareceu bastante apropriada.

Outro capítulo do livro é voltado à psicologia animal, e o parágrafo dedicado ao uso de insetos sociais em pesquisas nos primórdios da psicologia é muito interessante. Depois, explicando a mudança do paradigma da psicologia, ele cita Loeb, Jennings, o próprio Watson e Thorndike. Apesar destes autores possuírem maior destaque (o próprio Reuchlin explica que a maior parte dos estudos deste tipo foram conduzidos nos Estados Unidos), a linha européia da psicologia também ganha seu crédito (Loeb trabalhou na América toda sua vida), com Beer, Bethe, Lorenz, Tinbergen e Von Uexkull. O capítulo, porém, não cita Pavlov em momento algum!

No terceiro capítulo, intitulado "A psicologia diferencial" (o que acredito que depois se chamaria psicologia comparativa), Reuchlin explica a metodologia e os objetivos gerais dessa ramificação da ciência, assim como a origem deste estudo. Galton possui quatro páginas dedicadas ao seu trabalho. O livro cita outros nomes dos quais nunca havia ouvido falar (Pearson, Bertillon, Edgeworth, McDonell, Spearman, etc.). Não posso me pronunciar sobre eles, pois ainda estou estudando sobre esses caras. Complicada essa faculdade... Mais adiante fala-se sobre Catell e Burt, dois nomes bem conhecidos da área na metade do século XX. Novamente, o livro faz um recorte da psicologia soviética da época, mas os nomes citados são novamente meus desconhecidos, e Pavlov é citado apenas como referência.

O quarto capítulo dedica-se ao estudo da história da psicologia patológica e do método clínico. Não vou me alongar aqui, pois não conheço muito da área. Reuchlin começa contando sobre Ribot, grande promotor da separação da psicologia da metafísica. Depois fala sobre Dumas e Janet, destrinchando suas biografias e bibliografias. Na terceira parte do capítulo, fala sobre a psicanálise, e não economiza páginas sobre Charcot, Breuer e Freud. Falta espaço para os dissidentes, mesmo que os nomes de Jung e Ferenczi sejam citados. Mas como o capítulo é sobre psicanálise e Freud dizia que psicanálise era somente aquilo que ele havia descoberto, então deixa quieto. O capítulo acaba com uma seção sobre história do método clínico.

"A psicologia da criança" é o título do quinto capítulo. Bastante longo, começa com um delineamento filosófico das teorias do desenvolvimento. Logo após, fala sobre os métodos utilizados de observação das crianças (os próprios filhos dos observadores, primariamente). Cita uma página inteira de trabalhos sobre o tema. Algumas páginas depois cita Piaget e Wallon, e se dá ao direito de falar sobre fofocas entre os autores. Termina o capítulo falando sobre algumas aplicações da psicologia da criança. Pessoalmente, achei essa parte do livro extremamente enfadonha e pouco interessante (em parte pelo meu pouco interesse em relação ao tema). Li somente para escrever essa resenha, e foi sofrendo. :(

O livro acaba com um capítulo sobre psicologia social. Reuchlin fala sobre sua dificuldade de delinear o objetivo da psicologia social de maneira que satisfaça todos os teóricos, mas afirma que, no geral, este pode ser considerado o estudo das interações sociais entre o indivíduo e os grupos aos quais ele pertence. Cita clássicos como a Völkerpsychologie de Wundt, a teoria dos grupos de Gabriel Tarde e o La Psychologie des foules, de Le Bon. Fala sobre a orientação geral dos métodos da psicologia social e cita mais um número imenso de obras da segunda metade do século XIX e primeira metade do século XX. Lewin e Moreno possuem papel de destaque nessa parte do capítulo. O livro termina (aparte a conclusão) com uma curta explanação sobre a teoria da psicologia histórica de Meyerson.

Enfim, esse é um bom livro, que não foi sequer aproximado nessa minha tentativa (provavelmente fracassada) de resenhá-lo. Vale bastante a pena se você conseguir encontrá-lo em alguma biblioteca e tem interesse em história da psicologia. É um livrinho pequeno e antigo (1959, 135 págs.), com algumas informações bem desatualizadas. Apesar da falta de alguns teóricos que hoje estudamos na faculdade ser grande, ela é, ao mesmo tempo, bastante interessante, pois nos dá a perspectiva da psicologia de cinqüenta anos atrás, com suas "hope-to-be" vanguardas (que nem sempre viraram algo relevante).

Vale a pena essa experiência! :D Leiam, ok?

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